O nosso país está mergulhado numa crise imensa.
São as rendas das casas impossíveis de sustentar, são os juros dos créditos à habitação, que qualquer dia nos atiram para a sargeta.
Já não sei o que pensar, qualquer dia lutamos por um simples lugar onde nos abrigarmos, debaixo de uma ponte.
E agora os combustiveis, esta greve imensa, que embora com algum sentido, está a tomar proporções assustadoras, e a fazer de nós cidadãos portugueses, reféns no nosso próprio país.
PORTUGAL ESTÁ REFÉM DESTE SISTEMA ECONÓMICO.
Daqui por alguns dias já não haverá que comer, que beber, ou como nos deslocarmos dentro do nosso país.
Vamos voltar "aos antigamentes", em que se andava de burro, em charretes ou simplesmente a pé.
Vamos voltar a cultivar os quintais, para podermos ter legumes para comer, não se esqueçam de arranjar também uma vaquinha, para poderem ter leite para beber.
Isto está muito mal, mas o governo não toma posições.
QUEM NOS ACODE NUMA SITUAÇÃO DESTAS?
Estas minhas dúvidas e estes meus medos, são, acho eu, os medos e as dúvidas de todos nós.
Estamos dentro de um túnel, do qual não vemos saída, nem tão pouco, alguma claridade de esperança.
Espero sinceramente, que melhores tempos venham, porque senão, o que será desta sociedade em que vivemos???
Foi numa rua estreita, da outrora calma e pacifica, Angra do Heroísmo, que hoje eu preguei um dos maiores sustos da minha vida.
Ia sendo assaltada.
É verdade, numa terrinha, onde há uns anos atrás não acontecia nada deste género, hoje há assaltos em plena luz do dia, 14 e 30 da tarde.
Tinha ido eu à zona baixa da cidade, fazer algumas voltas que me competiam, quando ao percorrer uma das transversais da minha cidade, se aproximou de mim, um indivíduo, de ar agradável, alto e nada assustador, que meteu conversa comigo.
Eu, achando a situação estranha, e como não ia a passar minguém naquela hora, por percausão, agarrei a minha mala mais contra o corpo, e o individuo, calma descontraidamente, foi falando do tempo, que estava bom, que já apetecia umas idas à praia, etc.
Eu, fui respondendo calmamente, tentando não dar a entender o quanto batia descompassadamente o meu coração.
A conversa foi rolando, até que por fim ele mostrou o que queria.
- A senhora não por acaso algum dinheiro que me empreste?
Ao que eu respondi que não, que por acaso não tinha e que até nem tinha recebido ordenado ainda.
O sujeito foi me acompanhando, sempre muito encostado a mim,e a olhar de vez em quando para a mala, até que chegámos a uma zona mais movimentada.
Eu fiz mensão de me retirar, e ele, como já estavamos em rua mais povoada, deu-me boa tarde e seguiu.
Amigos e amigas, ia morrendo de susto.
Nunca julguei que me pudesse acontecer tal coisa, apesar de ter conhecimento, que casos destes já tinha aconteceido aqui em Angra.
Mas como costumamos dizer, acontece só aos outros.
Pois bem, hoje aconteceu-me a mim.
E para quem conhece a minha cidade, Angra do Heroísmo, isto deu-se na Travessa da Rua de S. João às 14 e 30 da tarde.
O momento de cumplicidade e ternura parecia eterno, mas tinha de acabar.
Os miúdos estavam a chegar da escola...
- Tens de te ir embora.
- Eu sei. Mas não consigo. Agora não te quero deixar.
E novamente os corpos se entrelaçaram, as bocas num misto de paixão e ternura voltaram a unir-se.
Era impossivel resistir.
- E agora? Quando é que me vais fazer uma visita?
- Eu? À tua casa?
- Sim. Eu corri os riscos todos vindo aqui. Agora é a tua vez. Quero que vás lá também.
- Não sei. Tenho de ver bem como vou fazer. Tem de ser bem combinado.
- Pensa e depois diz como e quando queres fazer a visita.
Era um turbilham de emoções. Medo caldeado com desejo, ternura misturada com prazer.
Um último beijo para a despedida...
- Fico à espera do teu telefonema. Já estou com saudades.
- Eu também...
Ele saiu, logo em seguida chegaram as crianças.
Os nervos a ânciedade, não a deixavam cuidar dos filhos em condições. Não conseguia ajudar nos deveres, a cabeça não parava de pensar no que tinha acontecido.
- Como é que isto foi acontecer?
- O quê mãe?
- Nada filho, a mãe está a falar sozinha.
Ela andava de um lado para o outro, o corpo todo a tremer, as mãos suadas. O medo de ser descoberta...
O telemóvel toca:
- Meu amor, já cheguei a casa. Estou a morrer de saudades. Quero estar contigo outra vez.
- Eu também meu amor.
- Não te demores a pensar num dia para vires cá.
- Talvez para a próxima semana. Estou de folga na 5º feira.
- Vou morrer de saudades da tua boca até lá...
- Tem de ser, temos de ter cuidado.
- Eu sei. Desculpa a minha ânciedade, mas estou doido para te ter nos meus braços outra vez.
Um barulho... a porta abre-se...
- Tenho de desligar o meu marido chegou...
E a tremer de medo, com a boca a amargar e as mãos todas suadas, ela vai receber o marido, com o sorriso mais falso deste mundo...
.
(contiunua)
Um dia...
Uma manhã...
Um telefonema...
E tudo muda na vida de uma pessoa.
A confusão estava instalada havia já algum tempo.
Os olhares trocados e as palavras de cumplicidade,
amontoavam-se dia após dia.
Os encontros furtuitos para cafés e desabafos.
Os almoços em casa dos amigos.
Os risinhos e cumprimentos despropositados, que ninguém queria ver...
As coisas intensificavam-se há algum tempo.
Certo dia...
Uma chamada no telemovel.
- Preciso falar contigo. Não aguento mais esta situação.
- Falar de quê?
A pergunta inocentemente falsa, mostrava medo e insegurança.
- Tu sabes muito bem de quê. Vou a caminho da tua casa.
- Não!!! Se alguém te vê?!
- Não quero saber, não aguento mais.
E a espera tornou-se angustiante, os minutos passavam.
O vigiar da entrada da casa era constante.
Chegou.
O abrir da porta devagar para não fazer barulho...
- Tu és doid...
Nem deu tempo de acabar a frase.
Cheio de paixão, tesão, e muita emoção, ele encosta-a à parede, e com o corpo a ferver beija-a até a deixar sem respiração.
As pernas tremem-lhe, os braços perdem as forças.
- Porque me fazes isso?
- Eu faço? E tu? O que é que me tens feito nestes últimos dias?
- Desculpa. Já nem sei o que faço.
- Anda vamos conversar.
E lá foram de mãos dadas até a um canto sossegado.
- Diz-me, tu também querias, não querias? Percebi isso naquele dia.
- Eu queria. Não, não queria. Já nem sei. Tenho medo.
- Não tenhas. Vem cá. Encosta-te a mim.
E ali ficaram como um só, abraçados...
.
(continua)