Amanhã vai ser levado à Assembleia da Repúbica, o decreto que regulamenta, ou deveria regulamentar, já que vai ser chumbado, o casamento entre homosexuais.
O que eu vou deixar aqui, neste pequeno canto do mundo virtual, é a minha opinião sobre o assunto.
Eu sou heterosexual,casada e mãe de dois rapazes na pré-adolescencia. Tenho e sempre tive amigos gays. Considero-os pessoas extraordinárias, com uma formação social, psicológica e religiosa irrepreenciveis.
Como tal, e porque sou a favor da igualdade entre TODOS, apoio incondicionalmente o casamento entre homens ou mulheres, e consequentemente a adopção por estes mesmos casais, se for esse o seu desejo.
Têm de entender, que o que estamos, nós que apoiamos esta causa, é a TENTAR fazer entender, que todos têm o direito de assumir públicamente de quem gostam e de celebrar esse amor perante todos. E que se essas pessoas se AMAM, tem de ter os mesmos direitos que as outras pessoas têm, sendo casais de sexos diferentes.
O que está em causa, são AFECTOS, são SENTIMENTOS, mas são, e infelizmente também, PRECONCEITOS. Porque é disso que se trata, este assunto é tão quente, porque vivemos numa sociedade maioritáriamente preconceituosa. Que se preocupa mais, com o que os outros vão pensar, do que com os sentimentos de quem está a lutar uma coisa perfeitamente normal; o direito a amar e ser amado, o direito a ter os mesmos direitos, o direito a ser igual perante a lei.
Uma criança tem o direito a ter um lar, se o lar original, junto de um pai e uma mãe biológicos não é possivel, então que a prioridade seja encontrar pessoas capazes de AMAR essa criança, de a EDUCAR dentro dos valor correctos, de lhe transmitir SEGURANÇA, de lhe dar CARINHO.
É disso que se trata, não interessa que tipo de "família" é, interessa sim, que seja uma familia bem extruturada, e ciente do papel que vai ter na vida dessa criança.
Por isso EU LAMENTO MUITO, que o nosso país e os nossos políticos, não tenham a capacidade, de ver que o que se trata aqui, é de SENTIMENTOS e não de VERGONHAS.
Foram dias foram anos a esperar por um só dia.
Alegrias. Desenganos. Foi tempo que doía
com seus riscos e seus danos. Foi a noite
e foi o dia na esperança de um só dia.
.
Manuel Alegre
"As Portas que Abril Abriu"
(...)
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que a história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua própria grandeza!
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
(...)
José Carlos Ary dos Santos
Sei que sou muito nova, que nem vivi este dia...
Mas para mim...
É uma emoção muito grande poder escutar o que dizem, aqueles que o viveram com intensidade.
A liberdade, é um bem precioso.
Eu costumo dizer que se tivesse vivido naquele tempo, e no lugar onde tudo se passou, tinha saído para as ruas, dando vivas a Salgueiro Maia e todos os outros Bravos Capitães de Abril.
As músicas, os poemas, a história deste dia, à qual devo a liberdade de estar aqui a escrever, entusiasmam-me.
Homens como Manuel Alegre, José Carlos Ary dos Santos, Zeca Afonso e tantos outros, que utilizaram a poesia e a música, para por a nú todas as hipocrisias, deste ou de outro qualquer país, são para mim exemplos a seguir, motivo de orgulho da minha nacionalidade.
Sei que isto pode parecer estranho vindo de alguém que só tem 31 anos, mas ouvir "Grândola, Vila Morena", faz crescer dentro de mim um sentimento profundo de patriotismo, faz-me vir as lágrimas aos olhos, e faz-me vontade de gritar, alto e bom som, para quem quiser ouvir:
VIVA A LIBERDADE
VIVA O 25 DE ABRIL DE 1974
"Grândola Vila Morena"
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
.
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
.
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
.
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena
.
À sombra de uma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola, a tua vontade
.
Grândola, a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra de uma azinheira
Que já não sabia a idade
Zeca Afonso