Quinta-feira, 8 de Maio de 2008

Margarida...

 

 

Margarida era mulher de rua.

Tinha sido abusada por um tio quando era miúda, e perdera-se na vida.

A mãe, mulher sofrida e sem coração, tinha-a posto na rua aos 15 anos.

Abandonada, sem dinheiro, Margarida conheceu Joaquim numa noite de muito frio, num Inverno já longinquo.

- Tens fome? Queres ajuda?

Margarida a medo disse que sim. Não tinha para onde ir, nem o que comer.

Joaquim, com o seu ar bondoso, não passava de um predador. Recolhia raparigas pelas ruas na mesma situação de Margarida, dava-lhes guarida, comida e protecção, mas em pagamento, obrigava-as a prostituirem-se.

Margarida sabia o risco que corria, mas não podia ficar mais uma noite na rua, era demasiado perigoso.

A caminho da casa de Joaquim, ele parou num mercado e comprou comida, fruta, leite, pão. Tudo o que ela quis.

Foram para casa dele. Ao chegarem Joaquim disse-lhe que ela fosse tomar banho enquanto ele fazia alguma coisa para ela comer.

- Vai tomar um banho, estás com cara de quem está a precisar.

Margarida, meio a medo, não ousou recusar.

Foi até a casa de banho, fechou a porta...

- Deixa a porta aberta, podes precisar de alguma coisa. Tens toalhas e sabonete aí em cima.

Margarida tremia, tinha frio, mas o que a fazia tremer mais, era o medo. Lá no fundo sabia o que lhe ia acontecer.

Sabia de amigas a quem tinha acontecido o mesmo.

Margarida tomou banho a medo, sempre a olhar para a porta, na ância de ver entrar Joaquim, mas para sua surpresa, Joaquim não entrou.

Margarida acabou o banho, vestiu uma camisola e umas calças que Joaquim lhe tinha arranjado e saiu.

- Sentes-te melhor?

Margarida abanou que sim com a cabeça.

- Anda, vem comer, senta-te aqui, deves estar com fome.

Margarida nem pestanejou, a fome devorava-lhe as entranhas e a comida cheirava tão bem...

Margarida comia sem olhar para mais nada a não ser o prato, a comida desaparecia rápidamente.

- Estavas mesmo com fome.

Margarida voltou a acentir que sim com a cabeça.

- Podes falar comigo. O gato comeu-te a lingua?

Margarida sorriu tímidamente.

- Se quiseres, podes te ir deitar, deves estar cansada. Amanhã falamos melhor.

Margarida levantou-se e dirigiu-se ao quarto que Joaquim lhe indicara.

Havia lá 4 camas, a dela e mais 3. Mas não estava lá ninguém.

- Joaquim. Mora aqui mais alguém?

- Mora, mas amanhã já as vais conhecer, agora elas estão a trabalhar.

E assim, agarrada aos lençois, Margarida passou a sua primeira noite à guarda de Joaquim...

(continua)

Sinto-me: Criativa
Música: Miss Solidão - santos e Pecadores

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