Margarida estava belissima.
Cabelos arranjados com primor, unhas pintadas, bem maquilhada...
Uma verdadeira princesa.
Ao chegar a casa, tal como as raparigas tinham previsto, Joaquim quase não a reconheceu.
- Que mudança! Estás uma rainha!
Margarida sentia-se estranha, não sabia para quê tanta produção, nunca tinha sido tratada assim.
- Amanhã temos uma festa. Hoje as raparigas vão te explicar o que tens de fazer.
- Não é nada complicado. Nós somos acompanhantes. Pagam ao Joaquim para terem a nossa companhia em festas importantes. Temos de ser agradáveis, educadas, simpáticas... nada de muito complicado.
Margarida não sabia o que dizer.
Tudo aquilo lhe parecia demasiado suspeito, fácil demais.
Não podia ser só aquilo...
A noite chegou, e Margarida foi dormir tal como as outras.
Dormir era forma de dizer, Margarida estava intrigada, desconfiada mesmo, não conseguia pregar olho.
A noite foi passando, debaixo dos lençois a cheirar a alfazema, Margarida remoía a conversa das raparigas. Aquelas explicações não a convenciam, tinha de haver algo mais.
(continua)
Margarida não pregou olho a noite inteira.
O medo que a invadia, impedia-a de fechar os olhos.
A noite foi passando, mas nada acontecia. Logo de manhã bateram à porta, Joaquim foi abrir, eram as outras raparigas.
- Xiu. Tem uma miúda a dormir.
- Mais uma?
- Que têm vocês com isso?
Devagar, Margarida levanta-se a vai à porta do quarto.
- Já acordaste? Estas são as tuas novas amigas. Vamos tomar o pequeno almoço e já conversamos todos.
As miúdas pareciam vindas de uma festa. Estavam bem vestidas, penteadas, maquilhadas...
Não pareciam prostitutas. Margarida estava confusa. O que se passava ali?
Quando acabaram de se trocar de roupa, foram tomar o pequeno almoço.
Na mesa havia de tudo. Margarida nunca tinha visto tanta comida na mesa de sua casa. Fruta, iogurtes, leite, pães de várias qualidades, compotas, queijos...
- Aqui não nos falta nada.
Disse uma das raparigas.
- Chamo-me Mafalda.
- Eu chamo-me Madalena.
- Eu sou a Mónica, muito prazer.
Margarida estava atónita. Elas pareciam satisfeitas, felizes por morarem ali, à guarda de Joaquim.
- Eu sou a Margarida.
- Olha lá Joaquim... Ainda não perdeste a mania dos M's?
Joaquim sorriu.
- Agora vamos lá a comer. Conversamos depois.
E assim durante algum tempo reinou o silêncio.
Debaixo do olhar atento de Joaquim, todas se alimentaram como quiseram.
Ao acabar o pequeno almoço, quando se preparavam para limpar a mesa, Joaquim mandou todas para o escritório.
- Meninas, deixem isso para depois. Agora vamos mostar as regras da casa à Margarida.
E dirigindo-se todas para o escritório de Joaquim, foram se sentando em sofás ou poltronas confortáveis.
Margarida olhava isto tudo com espanto, não entendia... O que lhe iria acontecer?
- Deves estar confusa. Pois bem, vamos às regras da casa. Tu, como todas elas trabalham para mim. Aqui não te vai faltar nada, mas, tal como ela tens de contribuir.
Aproximava-se a hora da verdade.
Margarida começou a tremer, os olhos a encherem-se de lágrimas.
- Porque está a chorar?
- Tenho medo.
- Medo de quê? Vês aqui alguém a chorar?
- Ou triste?
- Não.
- Então? Não tires conclusões antes da hora.
- Sei que deves ter passado por muito, enquanto tiveste na rua. Por isso estás assim tão nervosa. Aqui as minhas meninas, são tratadas como princesas.
Margarida não entendia nada. Estava cada vez mais confusa.
- Mas tu não me vais obrigar a prostituir-me?
Joaquim sorriu.
- Depende do que tu entenderes por prostituição. Eu tenho uma agência de acompanhantes, não um grupo de prostitutas.
Mas agora não penses nisso.
Vamos às regras:
1 - Não podem ter namorados,
2 - Não podem usar drogas,
3 - Não podem trazer "amigos" cá a casa.
- Três regras simples e muito fáceis de cumprir.
Margarida não entendia nada, era tudo muito confuso...
(continua)