Terça-feira, 20 de Maio de 2008

Margarida... (4)

 

 

Margarida estava belissima.

Cabelos arranjados com primor, unhas pintadas, bem maquilhada...

Uma verdadeira princesa.

Ao chegar a casa, tal como as raparigas tinham previsto, Joaquim quase não a reconheceu.

- Que mudança! Estás uma rainha!

Margarida sentia-se estranha, não sabia para quê tanta produção, nunca tinha sido tratada assim.

- Amanhã temos uma festa. Hoje as raparigas vão te explicar o que tens de fazer.

- Não é nada complicado. Nós somos acompanhantes. Pagam ao Joaquim para terem a nossa companhia em festas importantes. Temos de ser agradáveis, educadas, simpáticas... nada de muito complicado.

Margarida não sabia o que dizer.

Tudo aquilo lhe parecia demasiado suspeito, fácil demais.

Não podia ser só aquilo...

A noite chegou, e Margarida foi dormir tal como as outras.

Dormir era forma de dizer, Margarida estava intrigada, desconfiada mesmo, não conseguia pregar olho.

A noite foi passando, debaixo dos lençois a cheirar a alfazema, Margarida remoía a conversa das raparigas. Aquelas explicações não a convenciam, tinha de haver algo mais.

 

(continua)

 

 

 

Sinto-me: literária
Terça-feira, 13 de Maio de 2008

Margarida... (3)

 

Acabou a reunião e todas foram para os seus afazeres, arrumar a casa, fazer comida, lavar roupas...

Margarida continuava meia perdida.

- O que é que eu faço?

- Vai ajudando as outras, não tarda nada habituaste.

A manhã correu normalmente, as raparigas falavam entre si sobre a noite anterior, de como tinha corrido, e das expectativas para a noite seguinte.

Margarida ouvia aquilo tudo meia aturdida.

Chegou a hora do almoço, todos comeram à mesa como uma grande família.

- Meninas, agora, depois do almoço, vocês vão levar a Margarida às compras. Comprem-lhe roupas bonitas e vistosas, tanto para o trabalho como para o dia a dia.

- Mas eu não tenho dinheiro!

- Não te preocupes com isso, aqui é tudo por minha conta.

E assim depois de almoçarem as raparigas sairam todas em direcção ao centro comercial.

Correram as lojas todas, vestiram e despiram várias roupas, o entusiasmo dentro a fora dos vestiários, começou a entusiasmar Margarida.

Quando acabaram as compras, não havia mãos para carregar tantos sacos.

Ao chegarem a casa, Joaquim não estava, e em cima da mesa tinha um bilhete que dizia:

"- Fui tratar de negócios, levem a Margarida ao salão de beleza, quero-a mágnifica."

Margarida não entendia.

- Mágnifica porquê?

- O Joaquim deve ter grandes planos para ti.

Voltaram a sair, carregando consigo Margarida.

Chegaram ao salão, deixaram Margarida sentada numa poltrona na sala de espera, e foram falar com a dona do salão.

- O Joaquim mandou uma nova, é para tratares dela ao rigor.

- Ele diz que a quer mágnifica.

- Quando é que eu não deixei uma de vocês mágnifica?

- Tu és uma fada, tens umas mãos especiais.

- Ela é nova nestas andanças, nunca deve ter feito, nem sequer depilação. Trata-a com cuidado.

- Fiquem descansadas, vou transforma-la numa princesa. Podem voltar daqui a 3 horas.

Sairam do escritório da Manuela, assim se chamava a dona do salão, e foram ter com margarida, que continuava sentada, muito tímida e nervosa.

- Margarida, agora ficas nas mãos da Manuela, é ela que vai tratar de ti, nós voltamos daqui a pouco.

- Vão me deixar aqui sózinha?

- Não tenhas medo, não te vou fazer mal. Vou te transformar numa princesa. Até logo meninas.

E assim, Margarida ficou sozinha no salão com Manuela.

Para acalmar Margarida, Manuela começõu a falar com ela e a fazer-lhe perguntas.

- Diz-me, minha querida, como conheceste o Joaquim?

- Estava na rua sozinha e cheia de frio, e ele deu-me abrigo e comida.

- Já estás com ele há muito tempo?

- Há uma semana. E tu? Como é que conheces o Joaquim e as meninas?

- Eu? Eu já fui uma das meninas do Joaquim, quando tive de deixar de trabalhar, ele montou-me este salão este beleza.

Manuela, era uma mulher bonita, na casa dos 40 /50 anos.

Tinha um porte de senhora, elegante, educada, alegre, simpática... mas havia nela algum mistério.

Margarida simpatizou logo com ela, sentia-se confortável a falar com ela.

- Se precisares de uma amiga com quem desabafar, eu estou sempre aqui.

Manuela, parecia ter lido os pensamentos de Margarida.

- Obrigado, sinto-me tão sozinha, não conheço ainda as raparigas.

- Não te preocupes, vocês vão se transformar em grandes amigas. Mas eu estarei sempre aqui para quando quiseres desabafar.

A tarde foi passando, e a mudança de visual era impressionante.

- Quando chegarem, as raparigas nem te vão reconhecer. Estás pronta.

As raparigas já estavam à espera, quando Margarida saiu do gabinete, as outras ficaram mudas de espanto.

- Margarida! Estás linda!

- Linda não. Mágnifica!

- Quando o Joaquim a vir não a vai reconhecer, de certeza.

 

(continua)

 

 

 

 

Sinto-me: Literária
Música: Miss solidão - Santos e Pecadores
Sexta-feira, 9 de Maio de 2008

Margarida... (2)

 

 

Margarida não pregou olho a noite inteira.

O medo que a invadia, impedia-a de fechar os olhos.

A noite foi passando, mas nada acontecia. Logo de manhã bateram à porta, Joaquim foi abrir, eram as outras raparigas.

- Xiu. Tem uma miúda a dormir.

- Mais uma?

- Que têm vocês com isso?

Devagar, Margarida levanta-se a vai à porta do quarto.

- Já acordaste? Estas são as tuas novas amigas. Vamos tomar o pequeno almoço e já conversamos todos.

As miúdas pareciam vindas de uma festa. Estavam bem vestidas, penteadas, maquilhadas...

Não pareciam prostitutas. Margarida estava confusa. O que se passava ali?

Quando acabaram de se trocar de roupa, foram tomar o pequeno almoço.

Na mesa havia de tudo. Margarida nunca tinha visto tanta comida na mesa de sua casa. Fruta, iogurtes, leite, pães de várias qualidades, compotas, queijos...

- Aqui não nos falta nada.

Disse uma das raparigas.

- Chamo-me Mafalda.

- Eu chamo-me Madalena.

- Eu sou a Mónica, muito prazer.

Margarida estava atónita. Elas pareciam satisfeitas, felizes por morarem ali, à guarda de Joaquim.

- Eu sou a Margarida.

- Olha lá Joaquim... Ainda não perdeste a mania dos M's?

Joaquim sorriu.

- Agora vamos lá a comer. Conversamos depois.

E assim durante algum tempo reinou o silêncio.

Debaixo do olhar atento de Joaquim, todas se alimentaram como quiseram.

Ao acabar o pequeno almoço, quando se preparavam para limpar a mesa, Joaquim mandou todas para o escritório.

- Meninas, deixem isso para depois. Agora vamos mostar as regras da casa à Margarida.

E dirigindo-se todas para o escritório de Joaquim, foram se sentando em sofás ou poltronas confortáveis.

Margarida olhava isto tudo com espanto, não entendia... O que lhe iria acontecer?

- Deves estar confusa. Pois bem, vamos às regras da casa. Tu, como todas elas trabalham para mim. Aqui não te vai faltar nada, mas, tal como ela tens de contribuir.

Aproximava-se a hora da verdade.

Margarida começou a tremer, os olhos a encherem-se de lágrimas.

- Porque está a chorar?

- Tenho medo.

- Medo de quê? Vês aqui alguém a chorar?

- Ou triste?

- Não.

- Então? Não tires conclusões antes da hora.

- Sei que deves ter passado por muito, enquanto tiveste na rua. Por isso estás assim tão nervosa. Aqui as minhas meninas, são tratadas como princesas.

Margarida não entendia nada. Estava cada vez mais confusa.

- Mas tu não me vais obrigar a prostituir-me?

Joaquim sorriu.

- Depende do que tu entenderes por prostituição. Eu tenho uma agência de acompanhantes, não um grupo de prostitutas.

Mas agora não penses nisso.

Vamos às regras:

1 - Não podem ter namorados,

2 - Não podem usar drogas,

3 - Não podem trazer "amigos" cá a casa.

- Três regras simples e muito fáceis de cumprir.

Margarida não entendia nada, era tudo muito confuso...

 

(continua)

Sinto-me: literária
Música: Procura o teu destino - Santos e Pecadores
Quinta-feira, 8 de Maio de 2008

Margarida...

 

 

Margarida era mulher de rua.

Tinha sido abusada por um tio quando era miúda, e perdera-se na vida.

A mãe, mulher sofrida e sem coração, tinha-a posto na rua aos 15 anos.

Abandonada, sem dinheiro, Margarida conheceu Joaquim numa noite de muito frio, num Inverno já longinquo.

- Tens fome? Queres ajuda?

Margarida a medo disse que sim. Não tinha para onde ir, nem o que comer.

Joaquim, com o seu ar bondoso, não passava de um predador. Recolhia raparigas pelas ruas na mesma situação de Margarida, dava-lhes guarida, comida e protecção, mas em pagamento, obrigava-as a prostituirem-se.

Margarida sabia o risco que corria, mas não podia ficar mais uma noite na rua, era demasiado perigoso.

A caminho da casa de Joaquim, ele parou num mercado e comprou comida, fruta, leite, pão. Tudo o que ela quis.

Foram para casa dele. Ao chegarem Joaquim disse-lhe que ela fosse tomar banho enquanto ele fazia alguma coisa para ela comer.

- Vai tomar um banho, estás com cara de quem está a precisar.

Margarida, meio a medo, não ousou recusar.

Foi até a casa de banho, fechou a porta...

- Deixa a porta aberta, podes precisar de alguma coisa. Tens toalhas e sabonete aí em cima.

Margarida tremia, tinha frio, mas o que a fazia tremer mais, era o medo. Lá no fundo sabia o que lhe ia acontecer.

Sabia de amigas a quem tinha acontecido o mesmo.

Margarida tomou banho a medo, sempre a olhar para a porta, na ância de ver entrar Joaquim, mas para sua surpresa, Joaquim não entrou.

Margarida acabou o banho, vestiu uma camisola e umas calças que Joaquim lhe tinha arranjado e saiu.

- Sentes-te melhor?

Margarida abanou que sim com a cabeça.

- Anda, vem comer, senta-te aqui, deves estar com fome.

Margarida nem pestanejou, a fome devorava-lhe as entranhas e a comida cheirava tão bem...

Margarida comia sem olhar para mais nada a não ser o prato, a comida desaparecia rápidamente.

- Estavas mesmo com fome.

Margarida voltou a acentir que sim com a cabeça.

- Podes falar comigo. O gato comeu-te a lingua?

Margarida sorriu tímidamente.

- Se quiseres, podes te ir deitar, deves estar cansada. Amanhã falamos melhor.

Margarida levantou-se e dirigiu-se ao quarto que Joaquim lhe indicara.

Havia lá 4 camas, a dela e mais 3. Mas não estava lá ninguém.

- Joaquim. Mora aqui mais alguém?

- Mora, mas amanhã já as vais conhecer, agora elas estão a trabalhar.

E assim, agarrada aos lençois, Margarida passou a sua primeira noite à guarda de Joaquim...

(continua)

Música: Miss Solidão - santos e Pecadores
Sinto-me: Criativa

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